domingo, 19 de setembro de 2010

Eu, tu e o Miguel




Conheci o Miguel algures em Abril/ Maio, já nem o sei bem..
Na verdade, já o conhecia de visitar, frequentemente, a Pastelaria com a avó, avó essa que aproveitava de todas as vezes que me via para me falar dele, de como é empenhado e trabalhador, e, já agora, de como somos parecidos.
Achava-o bonito, não vulgar como todos os rapazes da nossa idade, ele é diferente e sempre o achei assim, como ainda hoje. Alto, moreno, olhos verdes, digamos que não é anoréctico, mas tem um corpo que me chama a atenção, talvez porque, até eu, nunca fui propriamente esquelética.

Lembro-me de o ver entrar pela Pastelaria e entre este ou aquele café, dar uma olhadela nele, não resistia, era como uma tentação, tinha de olhar! Sempre me chamou a atenção, nunca lho disse, nem sei se algum dia saberá, mas chamou.
Tinha vergonha de ser eu a atendê-lo, ficava sem jeito, não conseguia olhá-lo nos olhos, ficava demasiado evidente a minha atrapalhação, o que, para qualquer rapaz, era indicío de que podia caçar ou tentar, facilmente, aquela presa.
Voltando ao princípio..
Efectivamente, eu e o Miguel sempre nos conhecemos de vista, ou melhor, sabíamos mais que perfeitamente da vida um do outro por convivío familiar..
Para além dos episódios da pastelaria, que se repetiam ocasionalmente, pelo Natal ou quando a minha mãe precisava de mim para a substituir pela manhã, também nos começamos a encontrar no autocarro de manhã..
Incrível, chegou a chamar-me tanto a atenção que parecia louca, não conseguia pensar noutra coisa, e jurava que se algum dia o conseguisse ter para mim, não iria mais querer sair daqui, desde que estivesse com ele ..

De manhã, saía de casa e percorria um longo percurso para apanhar o autocarro com as habituais companheiras de caminho, embora tivesse uma paragem à porta de casa, casmurrisse ou não, eu preferia.
Rapidamente, em vez de apenas o ver no autocarro, passei a vê-lo chegar à paragem, à mesma onde nós apanhávamos o autocarro..

Escusado será dizer que em todos os contos de fadas à sempre umas quantas cobras ou vaquinhas que se metem no caminho...

Tudo estava perfeito, e cada vez mais sonhava como adolescente que era, em poder "conhecê-lo".
Até que, deixei de ser só eu a achá-lo atraente, uma das minhas companheiras de caminho, ao vê-lo a olhar, julgou que seria uma tentativa de troca de olhares com ela.. e, sinceramente, ao ínicio achei cómico a ilusão dela, mas nunca lhe contei nada, deixei que continuasse a pensar assim, dava-me gozo saber que não era para ela que ele olhava, era para mim, sim, porque eu sabia-o.
Lidava bem com a loucura dela, pensei que nunca a levasse a sério, como eu não levava, mas pelos vistos, tinha mais tomates que eu. Tanto olhava, tanto sorria, que eu desisti, entrava e saia no autocarro de cabeça baixa, e senti que ele se tinha apercebido que não queria mais olhá-lo, e tudo porque ela estava perdida de amores pelo encanto dele, tanto que teve tomates para lhe pedir o número de telemóvel, para lhe mandar mensagens e para me trocar pela companhia dele, todas as manhãs, enquanto esperavámos o autocarro..

Não, não resultou (YES !), ele deixou de ir de autocarro, não lhe respondeu a nenhuma mensagem e abandonou a nossa paragem para "fugir" às insistências dela. Confesso que fiquei contente quando soube, embora sempre a tivesse apoiado e ajudado, desenganhem-se se pensam que era egoísta e a queria ver mal por ela se ter metido com o "meu gajo", afinal de contas ninguém sabia, muito menos ela, nem poderia.




(continua..)

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